INCÊNDIOS EM CDs
- gdock
- 10 de out. de 2018
- 4 min de leitura

Brasil fecha o ano com pelo menos 724 incêndios estruturais, evidenciando perdas em grandes proporções no segmento de depósitos
E m 2017, foram noticiadas 724 ocorrências de incêndios estruturais, ou seja, aqueles que poderiam ter sido contornados com a instalação de sprinklers e aconteceram em depósitos, hospitais, hotéis, escolas e prédios públicos, excluindo residências. O monitoramento diário de notícias de ocorrências de incêndios no Brasil é do Instituto Sprinkler Brasil (ISB), cujo trabalho vem sendo realizado desde 2012. Segundo a organização sem fins lucrativos, dentre as diferentes categorias de estruturas, a que registrou o maior número de notícias na imprensa foram os estabelecimentos comerciais, veja no gráfico.
Estima-se, contudo, que os números apurados representem menos que 3% da quantidade real de ocorrências. Conforme atesta o ISB, no País, não há a divulgação de dados oficiais de casos de incêndio, o que impacta e restringe muito a discussão e a elaboração de políticas públicas para resolução do problema.
O assunto ganha uma proporção ainda maior se analisarmos os Centros de Distribuição (CDs), por sua importância estratégica no que tange ao abastecimento de um país continental como o Brasil, e por suas especificações técnicas bem diferentes de outras edificações, assim como sérios prejuízos humanos e materiais causados em caso de sinistros. Confira, a seguir, três fatos lastimáveis ocorridos recentemente.
Grupo Pão de Açúcar No dia 27 de dezembro de 2017, o em galpão de distribuição do Grupo Pão de Açúcar foi atingido por um incêndio grandes proporções, em Osasco, na Grande São Paulo. De acordo com a companhia, o imóvel foi evacuado e ninguém ficou ferido. Na ocasião, 29 equipes do Corpo de Bombeiros, com cerca de 90 homens, foram acionadas para combater o fogo, levando mais de sete horas para controlar as chamas. Segundo informou o Corpo de Bombeiros, em apuração do site G1, o imóvel não tinha o Auto Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB). O documento é obrigatório para diversos tipos de edificações, garantindo que são seguras e preparadas para oferecer maior proteção contra incêndios a todos que vivem, utilizam e trabalham naquele prédio. A empresa teve que organizar um plano de contingência para manter as lojas abastecidas.
Correios O mais recente incêndio de grandes proporções registrado no Brasil aconteceu no dia 2 de fevereiro de 2018, quando o Centro de Entrega de Encomendas (CEE) de Jacarepaguá, dos Correios, destruiu cerca de nove mil encomendas e pelo menos seis veículos de entrega, além do prédio. Segundo a Agência Brasil, os bombeiros confirmaram que não houve feridos e a estatal aguarda as investigações para saber as causas do incêndio. O fato ocorrido na madrugada comprometeu a entrega de encomendas nos bairros de Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes, na zona oeste do Rio de Janeiro. Em nota enviada para a imprensa, os Correios informam que os remetentes das encomendas perdidas serão indenizados.
Um cenário preocupante O advogado e jornalista Antônio Penteado Mendonça dedicou a sua coluna no Estadão, no do dia 17 de janeiro, para o tema, sob o título "Um cenário preocupante". Para o autor, o alto número de incêndios registrados no Brasil, em 2017, exige medidas sérias, dentre elas, por parte das seguradoras, a retomada da prática de vistorias em imóveis a serem segurados, registra. A crise econômica seria responsável por parte dos acidentes, diminuindo a frequência e qualidade da manutenção nas empresas, havendo menos dinheiro disponível para substituição dos equipamentos e vistorias. No ano passado, a contratação dos seguros de incêndio empresariais era uma ferramenta importante para minimizar as chances da ocorrência de fogo nos imóveis. O segurado tinha direito a descontos em função das medidas de proteção adotadas, que eram identificadas durante a vistoria para determinação da cobertura básica da apólice. Atualmente, os seguros são contratados sem vistorias prévias, prevalecendo a taxa média para aquele determinado tipo de risco. "Assim, por economia, as seguradoras abriram mão das vistorias prévias dos imóveis segurados", explica a coluna.
Medida inédita obriga divulgação de estatísticas A partir de janeiro deste ano, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP) está obrigada por Lei a divulgar as estatísticas mensais do Corpo de Bombeiros. A medida inédita precede o que já acontece com as estatísticas criminais, publicadas desde 2011. O Corpo de Bombeiros deve enviar, até o décimo dia útil de cada mês, dados sobre incêndios, em edificações e em vegetação, em veículos, além de vistorias técnicas de regularização, com base no sistema operacional da corporação.
Para evitar os incêndios “Incêndio se apaga no projeto”, afirma Manoel Altivo da Luz Neto, autor do documento Condições de Segurança Contra Incêndio, publicado pelo Ministério da Saúde. Para ele, a frase resume a necessidade de investimentos em planejamento, que deve se justificar pelos sinistros evitados e não pelos incêndios extintos. Ao se falar em segurança contra incêndios em edificações urbanas, dois aspectos assumem especial destaque: a proteção da vida humana e a proteção dos bens (patrimônio). Manoel explica que a resolução desse problema passa por três níveis de abordagem. O Institucional (político/estratégico) é formado pelas companhias de seguro e os órgãos públicos que detêm o poder de legislar. No segundo nível, Técnico Científico, estão as entidades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, de normalização técnica, empresas de projeto, construtoras e o meio técnico em geral. No time classificado como Operacional ficam os usuários dos edifícios e os próprios Corpos de Bombeiros. “Os três pontos de vista possuem forte influência mútua e cada um deles está vinculado a um ou mais grupos de atividades humanas”, explica.
De acordo com o professor da UNINOVE, Danilo Augusto de Souza Machado, evitar sinistros dentro de um centro de distribuição envolve uma complexa rede de operações, sendo a forma mais eficaz a prevenção, acompanhada da gestão, do controle, treinamento e comprometimento de todos os funcionários e fornecedores. “O conhecimento das normas regulamentadoras (NRs), por exemplo, é de grande valia, pois promove a conscientização para adoção de medidas claras, que diminuem a probabilidade de riscos”, explica. Dentre elas, a NR 23 (Proteção Contra Incêndio) e o Auto Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), fundamentais também para os profissionais da área de Logística. Para Augusto, a conscientização e o acompanhamento das metas de segurança visam sustentar e disseminar essas práticas desde o mais alto escalão, que deve investir em projetos estruturais para evitar a ocorrência de incêndios em centros de distribuição. Além de manter o AVCB regularizado, Danilo Augusto recomenda a aquisição de produtos de segurança e a realização de treinamentos e formação de Brigada de Incêndio.
fonte: https://www.imam.com.br/logistica/edicoes/330.pdf